Chile - Resistir a um desabamento em uma mina de cobre e ser resgatado a 700 metros de profundidade, passados três meses, parece pouco crível. No Chile, graças à tecnologia, esse é um milagre possível. Quando novembro chegar, 33 mineiros devem voltar à superfície, retirados de um pequeno refúgio, onde ficaram isolados desde o desmoronamento na mina San Jose, em Copiapó.
Será a realização de um sonho que parecia irreal em 5 de agosto, dia do incidente. Após duas semanas, já falava-se em tragédia e poucos apostavam em sobreviventes. Tudo mudou quando um papel amassado trazia, em tinta vermelha, 17 dias depois, as palavras de alívio: "Estamos bem no refúgio, os 33".
O recado enviado por um túnel de oito centímetros já existente disparou uma operação tecnológica em três frentes. Batizados de Planos "A", "B" e "C", três máquinas diferentes perfuram dutos com cerca de 70 centímetros de diâmetro que acessarão os operários. Por ali, um a um, os mineiros serão retirados com o auxílio de uma cápsula de resgate.
Avisados de que a operação poderia durar até quatro meses, coube aos trabalhadores encarar o desafio da adaptação à convivência forçada, à saudade de parentes, ao sono instável, à pouca iluminação, ao desconfortável calor e à alimentação regulada, enviada pelo mesmo túnel por onde informaram estar vivos.
Para o resgate, eles foram divididos em três grupos. Os qualificados serão os primeiros a sair, pois podem superar contratempos no duto ou na cápsula e dar sua experiência aos colegas e aos resgatistas. Os candidatos são Édison Pena, desportista que percorre 10 quilômetros por dia na mina e Alex Vega, que possui experiência em resgates.
Depois, será a vez dos mais velhos e dos doentes. Nesse grupo, estão o diabético José Ojeda, o hipertenso Jorge Galleguillos e o veterano Mario Gómez, de 63 anos. Por fim, serão resgatados os capazes de suportar a ansiedade até o término da operação. O gerente de turno, Luis Urzúa, deve ser o último a sair.
Cápsula
O resgate por cápsulas já havia sido realizado em 2002, na mina Quecreek, nos EUA (com nove mineiros a 80 metros de profundidade). Na época, lembra Carlos Barbouth, presidente da Survival Systems do Brasil e representante da Con-Space para a América Latina, os sinais vitais dos operários foram detectados por sensores acústicos. Hoje, fibras óticas e equipamentos permitem ver e dialogar. "Inclusive, a cápsula utilizada foi bem menos sofisticada que a de agora", afirma.
Batizada de Fênix, a cápsula chilena tem 2,5 metros de altura e 54 centímetros de largura. Pesa 250 quilos, possui estrutura em aço, saída de emergência, capacidade para 100 quilos, manta térmica, suprimento de oxigênio para três horas e sistema de comunicação.
Para Barbouth, a tecnologia de comunicação sai valorizada do episódio. Ele reitera que as inovações têm um custo, mas que ele será sempre menor que a remediação, como agora. "As lições de Copiapó vão ser analisadas e muita coisa deverá mudar, tanto na normativa quanto na prática", acredita.
Por fim, esclarece que o resgate ocorre em um espaço confinado, pois o desabamento bloqueou a saída da mina e, assim, reativou riscos atmosféricos, químicos, biológicos, de comunicação e iluminação, típicos do ambiente confinado.
O monitoramento de parte desses riscos tem suporte brasileiro. Técnicos das bases chilenas da Suatrans Emergências Químicas auxiliam no controle da atmosfera dentro da mina. Com equipamentos de medição, eles verificam o nível de oxigênio e a concentração de outros gases, prevenindo acidentes e problemas respiratórios. A empresa já havia auxiliado o Chile em fevereiro, após terremoto de 8,8 graus.
Data: 11/10/2010 / Fonte: Revista Emergência
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